Alvin Tofler dizia: Os analfabetos do século XXI não serão aqueles que não sabem ler e escrever, mas antes aqueles que não conseguem aprender, desaprender e reaprender.
O mundo não está só globalizado como tendencialmente massificado. Muitos sistemas educativos focam-se na normalização e não no cultivo, cuidado e expressão do potencial individual. Por outro lado, muitos pais ainda acreditam na velha e obscura máxima "de pequenino se torce o pepino". Consequentemente, a maior parte das pessoas cresce num ambiente de julgamento e de competitividade desenfreada, em que os padrões de comportamento de referência são tidos como dogmas e não como convenções passíveis de serem desafiadas e poderem evoluir.
A maior parte das pessoas não se permite ouvir a sua voz interior ou abraçar os seus sonhos porque isso os faria sair dessa normalidade tão valorizada familiar e socialmente. O problema é que, ao silenciarem sistematicamente essa voz interior, deixam mesmo de a ouvir, e perdem o contacto com a própria essência do seu ser...
Se olharmos à nossa volta, conseguiremos identificar muitas pessoas assim, a viver num estado mental e emocionalmente vegetativo, embora não tenham consciência disso porque é só essa a vida que conhecem: pessoas que sobrevivem a cada semana na expectativa de chegar a sexta-feira à noite e que no domingo já estão deprimidas por se avizinhar o regresso ao trabalho... pessoas cuja principal motivação no trabalho é poderem pagar as férias anuais que as vão tirar do sufoco cinzento do seu quotidiano... pessoas que já não sabem sentar-se no chão a brincar inconsequentemente com os seus filhos... pessoas que aos quarenta anos se sentem velhas, cansadas e inúteis... pessoas que encontram uma miragem de esperança num cigarro, na compra de um telemóvel ou vestido, no excesso de comida, numa relação abusiva, ou noutra qualquer dependência... pessoas que perderam a alegria intrínseca de viver.
Se queremos abraçar verdadeiramente a felicidade, o primeiro desafio não é o de aprender novos conhecimentos, métodos ou técnicas.
Tomar consciência de que podemos estar a alicerçar a nossa vida e as nossas escolhas em ideias e crenças que nos limitam, e perceber quais são elas, é o primeiro passo e também o mais determinante. Em seguida, poderemos desaprender, descondicionar, desprogramar, desconstruir [crenças limitantes, juizos de valor debilitantes, hábitos nocivos], criando espaço na nossa mente e na nossa vida para que a luz, a alegria e a vitalidade possam entrar e fluir. Então, finalmente, poderemos verdadeiramente escolher como queremos reorganizar e preencher esse espaço...
A chávena cheia (conto Zen)
Conta-se que Nan-In, sábio mestre japonês, recebeu, certa vez, a visita de um professor universitário, doutorado com “louvor e distinção” em conceituadas universidades, que veio inquiri-lo sobre a filosofia Zen.
O professor iniciou um longo discurso intelectual sobre as suas dúvidas e Nan-In começou a tentar esclarecê-lo. Mas, a cada frase ou opinião do mestre japonês, logo o professor universitário contrapunha os seus saberes sobre a questão em particular.
Entretanto, chegou a hora do chá. Nan-In serviu o visitante e encheu completamente a chávena do professor universitário, mas em vez de parar continuou a deitar o chá , derramando o líquido pela borda.
O professor, ao ver o excesso de chá a derramar-se, sem se poder mais conter, disse:
"Está muito cheio! Não cabe mais chá!"
Então o sábio mestre japonês, disse: ”Como esta chávena, você está completamente cheio das suas próprias crenças, preconceitos, opiniões, teorias, especulações... Como quer aprender qualquer coisa nova e diferente sem primeiro esvaziar, um pouco que seja, a sua chávena?”
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